Rastreados e confusos: perdemos as esperanças com relação à privacidade de dados?
A cada dia que passa, nós passamos mais e mais tempo de nossas vidas online. A média é maior que 6 horas por dia e, diante dessa questão, enfrentamos um desafio cada vez maior: proteger nossos dados no mundo digital. Muitas empresas privadas, como os gigantes das redes sociais, anunciantes e data brokers, estão em busca desses dados. Eles os coletam e os utilizam com o propósito de lucrar, sem o seu conhecimento ou consentimento expresso. Os governos também tiram proveito dos dados online, normalmente através de intermediários para ultrapassar proteções legais.
Por muito tempo, este tipo de operação secreta e obscura ocorria sem o conhecimento do público geral. Mas agora, mais e mais pessoas conseguem notar que há algo de errado com isso tudo. Uma pesquisa online recente da Pew descobriu que 8 em cada 10 americanos estão preocupados sobre a forma como as empresas usam os dados coletados sobre eles, e 7 em cada 10 apresentam as mesmas preocupações com relação ao governo. Mas, por mais que estes números mostrem claramente que os Americanos estão, em geral, preocupados com sua privacidade, a descoberta mais interessante foi a noção de que a maioria das pessoas não tinham nem ideia de tudo o que está de fato ocorrendo nos bastidores e do que podem fazer para recuperar o controle de seus dados, perdido há muito tempo.
Americanos estão preocupados, mas não sabem como os seus dados estão sendo usados
De acordo com a pesquisa, 73% dos americanos acreditam ter “pouco ou nenhum controle” sobre os dados que as empresas coletam sobre eles, enquanto 79% têm a mesma crença com relação ao governo. O que é ainda mais preocupante é que 2 em cada 3 participantes possuem “pouco ou nenhum entendimento” do que as empresas fazem com os seus dados, e uma parcela ainda maior não tem ideia do que acontece com os seus dados após chegarem nas mãos do governo.
Pode ser de fato desafiador entender o que as empresas fazem com a informação que coletam de você, já que eles são usados por vários motivos dependendo do objetivo. Algumas empresas (muitas, na verdade) utilizam seus dados para a publicidade. Elas aprendem sobre as suas preferências e comportamento online para te enviar anúncios assustadoramente específicos. Isso é feito por praticamente todo produtor, desde um fabricante de smart TV até uma empresa de carros. As empresas também utilizam os dados coletados para personalizar produtos, medir a efetividade de campanhas de marketing e conduzir pesquisar. A maioria dos consumidores provavelmente não se importa com esses usos, com exceção do uso publicitário. No entanto, também há outros usos dos dados que são ainda mais preocupantes, como monitoramento governamental ou venda para terceiros que podem ser usados para qualquer propósito que quiserem. No caso dos americanos, eles parecem muito mais preocupados com a venda de seus dados sem o seu consentimento do que com a vigilância governamental.
Em média 4 em cada 10 (42%) americanos estão “muito preocupados” sobre a venda de suas informações pessoais para terceiros sem consentimento. Ao mesmo tempo, 1 em cada 7 americanos (15%) afirmam estar “muito preocupados” com o monitoramento governamental realizado online. 15% pode até não parecer muito, mas não devemos nos esquecer de que as empresas não estão apenas vendendo os dados, como localização, para outras empresas, mas também ao governo.
Entre as empresas mais envolvidas nos negócios de venda ou, como costumam chamá-los, o compartilhamento de dados, os gigantes das redes sociais saem na frente. Eles contam com milhões de usuários e fazem bilhões de dólares ao vender dados para anunciantes. Por exemplo, no ano passado, a Meta lucrou surpreendentes $112 bilhões com este negócio, enquanto a empresa-mãe do TikTok, a ByteDance, informou um lucro de US$29 bilhões. Enquanto aproximadamente 82% dos americanos usam agora redes sociais, e possuem em média 7 contas, a vasta maioria deles (76%) afirma que possuem “pouca ou nenhum confiança” de que as redes sociais não venderão seus dados pessoais sem consentimento.
E eles têm motivo para desconfiar, pois isso já aconteceu mais de uma vez. Por exemplo, em 2022, o Twitter foi multado por vender ilegalmente os dados de usuários, afirmando que seriam usandos por motivos de segurança. Em 2018, foi exposto que o Facebook deu aos seus parceiros, incluindo a Amazon e a Microsoft, um acesso quase ilimitado aos dados de seus usuários sem que pedissem permissão pasa isso.
Não há esperanças: preocupação não necessariamente leva à ação
Alguém poderia pensar que as crescentes preocupações com a privacidade online se traduziriam em medidas concretas para remediar a situação. E, até certo ponto, isso é verdade. A maioria dos americanos acredita que está fazendo tudo ao seu alcance para proteger sua privacidade online: 78% afirmam confiar em si mesmos para tomar as decisões certas sobre suas informações pessoais.
Mas isso significa que estão confiantes de que sua privacidade está realmente protegida? De jeito nenhum. Cerca de 3 em cada 5 americanos dizem que são “céticos de que qualquer coisa que façam fará muita diferença.” Em resumo, muitas pessoas sentem que têm que aceitar a situação como está, e que as opções apresentadas a elas são apenas para criar uma falsa sensação de privacidade. Uma das coisas que a maioria dos americanos aparentemente acredita ser inútil é ler as políticas de privacidade. Mais da metade diz que "sempre, quase sempre ou frequentemente" as ignora. O exemplo mais evidente de "não colocar em prática o que se diz" é o fato de 45% dos adultos nos EUA dizerem que estão "muito ou um pouco preocupados" com a forma como as empresas lidam com seus dados e, ao mesmo tempo, admitirem que não leem as políticas de privacidade.
Enquanto a leitura de políticas de privacidade é uma regra básica de higiene digital que recomendamos a todos, seríamos os últimos a criticar aqueles que evitam textos longos e confusos que as empresas frequentemente usam como suas políticas de privacidade. Às vezes, uma política de privacidade nem está em um só lugar, e você precisa ler adendos e outros suplementos para ter uma compreensão completa sobre o que a empresa fará com seus dados.
Com tantas escolhas de privacidade a fazer todos os dias, a maioria das quais é insignificante, é fácil ficar desanimado. E quando as pessoas percebem o quão grande e desafiador é o problema, muitas desistem. 37% dos americanos dizem que estão "sobrecarregados" ao tentar descobrir o que precisam fazer.
Conscientização: a chave para a proteção da privacidade
É fácil se perder no mar de escolhas de privacidade, e ainda mais difícil distinguir quais são reais e quais parecem projetadas para confundi-lo (como o infame modo "incógnito"). A chave para navegar nessas águas turbulentas é aprender mais sobre privacidade e cibersegurança — e talvez você não precise de uma pesquisa do Pew Research para lhe dizer isso. De acordo com a pesquisa, aqueles que são mais conhecedores sobre privacidade e cibersegurança têm mais probabilidade de tomar medidas concretas para proteger suas informações pessoais. Isso inclui ajustar as configurações de mídia social, desativar cookies ou rastreamento de sites, usar um navegador e mecanismo de busca focados em privacidade, e delegar a tarefa de lembrar todas as suas senhas a um gerenciador de senhas.
Enquanto apenas 68% dos americanos dizem que alteraram suas configurações de privacidade em redes sociais para gerenciar sua privacidade online, 83% dos americanos mais conscientes da privacidade o fizeram.
Ver que as pessoas estão assumindo a responsabilidade por sua privacidade é encorajador, mas os métodos de proteção da privacidade destacados na pesquisa estão longe de serem suficientes. Para começar, alterar suas configurações de privacidade em redes sociais pode não fazer muita diferença.
Quanto aos outros métodos de proteção da privacidade listados pelo Pew, todos são válidos, mas há muitas outras maneiras de aumentar ainda mais sua privacidade. Você pode usar uma VPN, que criptografará seus dados e os roteará por um servidor, para que seu provedor de serviços de Internet (ISPs) ou provedor de Wi-Fi público não possam ver o que você está fazendo online. Você também pode usar um bloqueador de anúncios: ele bloqueará solicitações de rastreamento e dificultará para terceiros rastreá-lo pela Web. Alterar seu resolvedor DNS padrão, fornecido pelo seu ISP, para aquele que bloqueia anúncios e rastreadores, pode ser mais um passo. Para usuários mais avançados, um DNS privado pode ser útil. Um DNS privado é um servidor DNS que, além dos benefícios de um servidor DNS público (como criptografia de tráfego e bloqueio de anúncios), oferece recursos como personalização flexível, estatísticas DNS e controle parental.
No entanto, saber quais ferramentas podem ajudá-lo a melhorar sua privacidade não é suficiente. Você também deve pesquisar os serviços que está prestes a usar e garantir que não sejam lobos em pele de cordeiro, ou seja, impostores que fingem proteger sua privacidade, mas na verdade a comprometem — como este serviço de VPN gratuito, que afirmava não manter registros, mas expôs mais de 360 milhões de registros de usuários em uma violação.
Estatísticas do AdGuard: apenas cerca de 36% usam proteção contra rastreamento
Nossos próprios dados também sugerem que a conscientização é a chave quando se trata de proteger sua privacidade. O filtro de Proteção contra Rastreamento do AdGuard está ativo em apenas cerca de 36% de nossa base global de usuários de aplicativos e extensões. Isso significa que a maioria de nossos usuários ainda está exposta a algum rastreamento indesejado e coleta de dados.
Nas extensões de bloqueio de anúncios do AdGuard, onde esse filtro está disponível gratuitamente, mas desativado por padrão, apenas 27% dos usuários o ativaram. Nossa suposição é que a maioria dos que ainda não o fez simplesmente não está ciente de sua existência.
Captura de tela: Extensão de bloqueio de anúncios do AdGuard para o Firefox. Vá para Filtros → Privacidade para encontrar e ativar o Filtro de Proteção contra Rastreamento do AdGuard.
Também notamos algumas diferenças regionais no uso desse filtro entre nossos usuários de extensões. O filtro é mais popular no Japão, a União Europeia fica em segundo lugar, enquanto os Estados Unidos ficam atrás, bem abaixo da média global de 27%.
Estudos, incluindo o mais recente do Centro de Pesquisas Pew, mostram consistentemente que as pessoas estão ficando mais preocupadas com sua privacidade online. No entanto, muitas vezes não sabem como agir com base em suas preocupações. É por isso que aumentar a conscientização sobre ferramentas de proteção de privacidade, como motores de busca focados em privacidade, navegadores com foco em privacidade, bloqueadores de anúncios, VPNs e outros, é importante.
No entanto, o conhecimento não é infalível. À medida que as pessoas aprendem mais sobre ferramentas de privacidade e começam a usá-las, podem encontrar impostores, como bloqueadores de anúncios ou VPNs falsos. Elas também podem se deparar com padrões obscuros que as empresas usam para enganar ou até assustar os usuários para que desistam de suas informações. Em última análise, quanto melhor você conhecer as possíveis armadilhas em que pode cair, melhor você estará protegido.