YouTube testa formas de banir os bloqueadores de anúncios. O que esperar?
O YouTube admitiu estar testando uma nova política em que pede aos usuários para que desativem o seu bloqueador de anúncios ou paguem pelo YouTube Premium se quiserem assistir vídeos sem publicidade.
Este teste ficou conhecido após alguns usuários do Reddit terem visto uma popup do YouTube com a seguinte mensagem: “Bloqueadores de anúncios não são permitidos no YouTube.” Em seguida, havia uma explicação de que anúncios ajudam os criadores da plataforma e recomenda que os usuários se inscrevam no YouTube Premium por R$20,90/mês para que os youtubers “possam continuar a ser pagos a partir da sua assinatura.”
Fonte: Reddit
O teste ainda parece ser bem limitado, e não está claro se o YouTube irá expandí-lo para que atinja mais usuários. No entanto, não é a primeira vez que a plataforma do Google faz estes experimentos relacionados a anúncios, abandonando-os posteriormente. Estes testes incluíram a infame tantativa de forçar os usuários a assistirem 10 anúncios de uma vez só, e não era sequer possível pulá-los.
O fim do bloqueio de anúncios no YouTube?
Antes de tudo, não está claro se essa nova política, que já está dando o que falar, chegou para ficar. É fácil imaginar que ela será extremamente impopular entre os usuários. O YouTube sem dúvidas estará monitorando as reações ao "experimento" e, se observar um abandono em massa da plataforma, especialmente por parte daqueles que não querem pagar pelo YouTube Premium, pode ser que ele seja deixado de lado.
Mas se o YouTube der continuidade ao seu plano de banir os bloqueadores de anúncios, segue a nossa análise sobre o que esperar.
Se o banimento dos bloqueadores de anúncios se tornar parte da política padrão da plataforma, os usuários precisam estar preparados para um pouco de agitação. Os bloqueadores de anúncios e o YouTube estarão presos em um eterno jogo de gato e rato, em que um tentará se sobressair ao outro. Além disso, já que os bloqueadores de anúncios vêm refinando suas técnicas para evitar detecção já há algum tempo, é pouco provável que o YouTube consiga instaurar o banimento sem uma forte resistência.
Impactos pana experiência dos usuários e criadores de conteúdo
Com o passar dos anos, o YouTube vem aumentando o número de anúncios nos vídeos sob a justificativa de dar suporte aos criadores de conteúdo. Os anúncios são variados e vêm em diferentes formatos: ads que você pode pular após cinco segundos, ads que você não pode pular (um dos piores tipos) e anúncios breves, que rodam antes de um vídeo e duram até 6 segundos.
Os usuários sem bloqueadores de anúncios continuarão sendo confrontados com este fluxo incessante de anúncios, e não é segredo que muitos se incomodam com eles. Alguns até mesmo podem considerar sair da plataforma. Ao mesmo tempo, aqueles que decidirem continuar usando os bloqueadores de anúncios, se encontrarão em meio a uma guerra entre o YouTube e os bloqueadores de anúncios, podendo eventualmente se deparar com a irritante mensagem de banimento.
No que se refere aos criadores de conteúdo, é fato que eles ganham algum dinheiro a partir do programa AdSense do YouTube, que permite que sejam pagos ao ceder espaço em seus vídeos para a publicidade. A quantidade a ser recebida depende de quantas pessoas assistiram o anúncio em sua totalidade ou que interagiram com ele. Se o anúncio é pulável, um espectador deve assistí-lo por ao menos 30 segundos ou clicar nele para que seja validado pelo YouTube e, por consequência, gerar algum lucro para o criador de conteúdo. Em primeiro lugar, poucos usuários assistem e continuarão assistindo os anúncios por completo e, ainda, pode ser que o número de visualizações caia devido ao banimento dos bloqueadores de anúncios e isso, paradoxalmente, influenciaria também no lucro por anúncios.
Assim, também vale notar que o YouTube não está apenas pensando nos criadores ao considerar banir bloqueadores de anúncios, mas também (e principalmente!) está pensando em si mesmo. Algumas estimativas fazem crer que o YouTube fica com 45% do lucro por publicidade gerado por canais, enquanto criadores de conteúdo ficam apenas com os outros 55%.
Também é importante ter em mente que os ganhos dos criadores de conteúdo por 1000 visualizações de anúncios podem variar muito dependendo de muitos fatores, como o tema do canal e a localização dos espectadores. De acordo com um relatório do Business Inside, os criadores podem ganhar de US$1,61 até US$29,30 a cada 1.000 visualizações, e o seus ganhos com anúncios pode variar muito de mês a mês. Como resultado desta imprevisibilidade, somada ainda à desmonetização por engano ou arbitrária de vídeos do YouTube ou mesmo canais inteiros, muitos criadores de conteúdos se apoiam muito mais em parcerias com marcas, pois são mais estáveis e pagam muito mais. Este tipo de parceria tem como base um número alto de visualizações, também.
Assim, é fato que os lucros com anúncios do YouTube por parte dos criadores de conteúdo podem não sofrer um impacto tão grande, especialmente quando se trata de youtubers menores. Uma queda no número de visualizações, por outro lado, pode atingí-los de maneira negativa, fazendo com que fique mais difícil fechar parcerias com marcas.
Conclusão
Coincidência ou não, o YouTube decidiu fazer este “experimento” com o banimento no bloqueio de anúncios logo após um péssimo informe de resultados. O relatório Q1 de 2023 da Alphabet, lançado no mês passado, mostrou que o os lucros com anúncios do YouTube diminuíram 2.6% nos últimos anos, marcando o terceiro trimestre consecutivo de perda de lucros da plataforma.
Este é um padrão já bastante conhecido: uma empresa está com problemas para lucrar (ou lucrar tanto quanto antes, como é o caso do YouTube), e os seus executivos entendem que a perseguição aos bloqueadores de anúncios é um passo lógico para aumentar sua receita. O problema é que, por mais que seja fácil usar os bloqueadores de anúncios como bode expiatório, esta abordagem funciona apenas a curto prazo. Ainda pior: isso pode estimular os usuários a migrar para outras plataformas, tornando-se um verdadeiro tiro no pé.