Chatbot de IA do Bing vs. pesquisa do Google : qual é o melhor?
O ChatGPT representou uma ruptura na indústria dos mecanismos de pesquisa, assustando até mesmo o Google, e o responsável por isso foi o novo Bing. O chatbot do Bing funciona a partir do GPT-4, a versão mais avançada do modelo de linguagem da OpenAI (o ChatGPT foi construído com base em seu predecessor, o GPT- 3.5), e foi customizado pela Microsoft para que fosse usado especificamente para a pesquisa. Como qualquer outro mecanismo de busca, o chatbot da Bing está ciente dos eventos atuais. Ao contrário do ChatGPT, ele pode lhe dizer a hora, o tempo e as notícias. Em outras palavras, ele é projetado para combinar o melhor dos dois mundos: as habilidades de conversação e a desenvoltura de um chatbot com a consciência de um mecanismo de busca.
Após o novo Bing ter sido anunciado em 7 de Fevereiro, ele ficou inicialmente disponível em um lista de espera. Desde então, milhares de testadores o experimentaram. Um terço deles nunca tinha usado o mecanismo de pesquisa da Microsoft aintes, levando o número de usuários diários do bing para 100 milhões. Eu também estava ansioso para experimentá-lo, então me inscrevi para a versão de testes do Bing repaginado também.
O veredito: é fascinante, provavelmente melhor que o Google, mas não é à prova de erros e um pouco factível de ser explorado, especialmente se anúncios forem adicionados a esta explosiva mistura de IA e busca.
O dobro do poder
O Bing é um "híbrido" entre chatbot (como o ChatGPT) e mecanismo de pesquisa e, em teoria, deveria funcionar melhor que cada um deles. De fato, o Bing Chat pode criar uma tabela para você baseada em dados atualizados, escrever um poema ou contar uma piada.
A proposta original do mecanismo de pesquisa, no entanto, não é entreter ou fazer o seu trabalho po você, mas oferecer informação precisa e confiável em resposta para uma consulta básica. Por isso, eu quis entender como o Bing se destaca com relação à pesquisa do Google, o líder absoluto do mercado dos mecanismos de pesquisa com quase 90% de dominância no mercado.
Pesquisa do Google vs. novo Bing: quem é o melhor?
Para o meu experimento, eu selecionei algumas das questões mais perguntadas ao Google do mundo todo e as perguntei ao Bing Chat e ao Google.
1. Que horas são?
Quem precisa de um relógio quando você pode usar o Google? Pode parecer estranho, mas a consulta mais comum em mecanismos de pesquisa é "que horas são". Por isso, eu fiz esta pergunta a ambos os mecanismos de pesquisa, utilizando sempre uma VPN conectada a um servidor dos EUA.
O Google me informou o horário e minha localização aproximada logo de cara, sem surpresas.
Com o chatbot do Bing, descobrir que horas são foi um pouco mais difícil. Eu tentei várias vezes e, em algumas delas, o Bing me deu a resposta correta logo de cara (mas não tão rápido quanto o Google).
Outras vezes, no entanto, o chatbot me disse que precisava da minha permissão para acessar as configurações do meu dispositivo e se recusou a dizer que horas são a menos que eu informasse a minha localização.
Em um dos casos, quando eu alterei a configuração de idioma para alemão, o Bing iniciou uma longa conversa pedindo pela minha permissão para determinar meu IP e explicando em detalhes como isso seria feito. Eu desisti antes de concluir o processo.
É bom saber que o chatbot busca que ocasionalmente respeitar sua privacidade, por isso vou dar um ponto ao Bing para isso. No entanto, o Google e um relógio de pulso ainda parecem ser a melhor opção (e a mais rápida também).
2. O que assistir?
Quem é que nunca pediu uma recomendação de filme para o Google? "O que assistir" está no top 5 das perguntas mais feitas ao Google.
Diante da pergunta, o Google entregou uma longa lista de títulos, organizados por gênero e popularidade. Dezenas deles. Os critérios para as sugestões do Google não foram tão claros, no entanto.
Escolhas demais podem ter um efeito paralisante às vezes. O Bing parece concordar com isso e deu sugestões muito mais concisas e específicas. Ele citou o Rotten Tomatoes, um dos sites de reviews de cinema mais conhecidos e confiáveis, como sua principal fonte de recomendação, e ainda faz algumas perguntas para saber se a sugestão de filme foi certeira.
É possível encontrar argumentos para defender os dois mecanismos de busca, mas eu diria que o Bing se saiu melhor.
3. Como perder peso rapidamente?
A pergunta "como perder peso rapidamente" está no top 30 mundial. Eu a escolhi porque está ligada à saúde, fiquei curioso se o Google e o chatbot do Bing a tratariam de uma forma diferente por se tratar de um assunto mais delicado.
O Google me deu uma lista de dicas tiradas de um artigo da Forbes, junto de algumas fotos mostrando várias fotos com uma progressão de emagracimento rápida e nem um pouco realista. Isso me deixou um pouco incomodado.
Desde o princípio, o chatbot do Bing me avisou que perder peso muito rápido pode ser prejudicial à saúde. Como conselho de perda de peso, o chatbot me deu informações do Healthline, um site de saúdo dos EUA muito renomado. O Bing também me perguntou sobre o propósito da minha jornada de perda de peso, um fator importante a se considerar antes de iniciar qualquer mudança na dieta. Meu voto vai para o doutor Bing neste tópico (embora ir a um nutricionista seria uma idea melhor).
4. Como dar um nó em uma gravata
"Como dar um nó em uma gravata" é outra questão que apareceu no topo das listas de pesquisa mundiais. Então, no espírito do experimento, eu pedi que tanto o Google. quanto o Bing, me dessem uma mãozinha com isso.
O Google nos deu uma instrução em vídeo, que deveria nos ajudar a dar o nó em uma gravata de forma "rápida e fácil.”
O Bing respondeu à pergunta ao dar uma instrução escrita com o passo a passo para dar o nó em uma gravata e com um link para uma série de tutoriais em vídeo para amarrar diferentes tipos de gravata. Sua resposta imediata pareceu mais bem pensada. Além disso, nem todo mundo consegue aprender através de estímulos visuais. Assim, este round foi apertado, mas meu voto vai para o Bing.
5. Encontre o vôo mais barato
Houve informações de o Bing tem um modo "assistente pessoal" secreto e, embora eu não tenha conseguido ativá-lo, eu ainda assim pedi que o chatbot faça o trabalho de um assistente pessoal: encontrar o vôo mais barato de Nicosia, no Chipre, para Berlim, na Alemanha. Enquanto o Bing me deu mais informações sobre a rota, o preço e até sugeriu uma data (se realmente é o vôo mais barato, é outra história), o Google não me deu informação nenhuma.
Mais um ponto para a Inteligência Artificial.
Quanto mais complicada a pergunta, melhor fica o Bing
Para perguntas mais simples, a pesquisa do Google parece ser igual ou superior ao chat do Bing, e é definitivamente mais rápida. No entanto, conforme o nível de complexidade das perguntas aumenta, o Bing fica muito melhor. Parece que o Bing recorre principalmente a fontes de autoridade relevantes para cada consulta (quandp se trata de uma pergunta sobre cinema, ele recorre a uma fonte de autoridade da indústria cinematográfica; se se trata de uma questão de saúde, ele recorre a uma fonte renomada da área). O chatbot do Bing também traz links para todas as informações, então você pode checar as fontes por si só, e sempre te convida a perguntar mais coisas para ter certeza de que você entendeu e tudo e não interpretou nada de maneira errônea.
É claro que eu apenas dei uma olhada em uma pequena amostra de respostas do Google e que a minha opinião é muito subjetiva (também existe a possibilidade de eu ter dado sorte com as respostas, nada mais que isso). Mas a minha percepção é de que as respostas do Bing apresentam mais nuances, como alertar sobre o perigo de perder peso muito rápido, por exemplo. Ele pareceu mais… humano.
Ainda é provável que eu tenha tido uma amostra superficial de tudo o que Chat Bing é capaz de fazer, já que suas habilidades serão melhoradas logo. Uma das principais diferenças entre o GPT-3.5 e o GPT-4 é que o último é multimodal. Isso quer dizer que ele pode entender não apenas texto, mas também outros tipos de entrada, como imagens. De acordo com a OpenAI, o GPT-4 é capaz de descrever uma foto, afirmar o que é incomum na imagem e até mesmo explicar um meme. A chance de que p Bing logo comece a fazer isso é enorme.
Erros acontecem
Da mesma forma que com o ChatGPT, é fácil ficarmos encantados com um chatbot que parece saber tudo e até mesmo demonstra um ar de autoridade. O fato de que o Bing já é um mecanismo de pesquisa também colabora com esta impressão, então podemos acreditar ainda mais nele do que no ChatGTP. Mas nós não deveríamos.
A OpenAI admite que por mais que o GPT-4 seja o melhor modelo em termos de factualidade, ele ainda está “longe de ser perfeito.” Ele ainda pode “alucinar,” criar fatos e apresentar erros ilógicos. Da mesma forma que nos modelos mais antigos, ele pode “errar e apresentar seus erros com confiança.” Além disso, a OpenAI aponta para o fato de que o GPT-4 “frequentemente exibe estas tendências de formas mais convicentes e verossimilhantes do que modelos mais velhos do GPT.”
Mesmo durante minha breve interação com o chatbot do Bing eu encontrei vários erros em suas respostas, mesmo sem tentar induzí-los. Por exemplo, ao listar os países da União Europeia, o Bing omitiu a Áustria e a República Tcheca. Quando eu chamei a atenção para o erro, ele se descupou e corrigiu o erro.
Mas e os anúncios?
É impossível imaginar a pesquisa do Google ou qualquer outro mecanismo de pesquisa (incluindo o antigo Bing) sem anúncios. No caso do Google, a publicidade em resultados de pesquisa é a sua principal fonte de lucro, com um total de 57% dos ganhos, ou US$162 bilhões no ano passado). Por sorte, existem formas de remover os anúncios dos resultados de pesquisa: usando um bloqueador de anúncios.
Mas e o chat do Bing? Seu primo baseado em inteligência artificial, o ChatGTP, não tem anúncios. Pode-se dizer inclusive que um dos charmes do ChatGPT é que ele não tem anúncios, tornando-o ainda mais confiável. O chatbot do Bing também está livre de anúncios até o momento, mas pode ser que isso não dure muito tempo. De acordo com vários relatórios, a Microsoft vem promovendo em reuniões com anunciantes anúncios que podem ser mostrados dentro do chatbot. De acordo com o Business Insider, os planos da Microsoft incluem mostrar anúncios dentro das respostas do chatbot como notas clicáveis. Pode ser um link para comprar passagens aéreas ou um laptop, por exemplo, como o próprio chat do Bing me comunicou.
O link pago será rotulado de acordo para distingui-lo dos resultados não pagos. Haverá também outros formatos de anúncios, tais como anúncios de texto, anúncios multimídia, anúncios de produtos e anúncios verticais. Segundo a Business Insider, pelo menos a curto prazo, as campanhas publicitárias atuais serão automaticamente estendidas ao chatbot.
Quando perguntado se seria possível optar por não incluir anúncios, o chatbot me disse que eu só poderia optar por não incluir anúncios personalizados, não todos os anúncios.
Por mais que nos reste esperar para ver como a Microsoft implementará estes planos, existe motivos para nos preocuparmos.
Já que o chatbot do Bing não é um mecanismo de busca tradicional, mas sim projetado para agir como um pequeno ajudante, amigo e assistente pessoal, as pessoas tendem a acreditar mais em seus resultados ao falar com ele. É muito mais provável que você siga a recomendação de um amigo do que a de uma máquina de busca. E ser seu amigo é exatamente o que qualquer chatbot conversacional finge ser, a menos que você o peça para ser outra pessoa, como Elon Musk ou Gollum, ou Donald Trump (no Bing Chat você pode fazer isso ativando um "modo de celebridade").
Em outras palavras, será mais fácil para o Bing Chat te convencer a comprar algum serviço ou produto em particular. Outro problema em potencial é que as respostas do chatbot podem nem sequer incluir outras opções de produtos (diferente dos resultados de pesquisa do Google), então você terá menos estímulos para fazer sua própria pesquisa. Assim, por mais que o Bing ofereça respostas melhores para questões complexas, existe o risco de que isso pode mudar se os anúncios entrarem em ação.
Em conclusão
O chatbot do Bing baseado no GPT-4 pode ajudar as pessoas de muitas maneiras. Ele pode facilitar as tarefas do dia a dia e ainda nos entreter. Ele pode ainda tornar a busca mais pessoal e baseada em fatos, em vez de apenas um monte de links, muitos dos quais podem ser anúncios.
Entretanto, um chatbot alimentado por IA, mesmo que seja feito sob medida para a busca, não é uma lâmpada mágica que você pode esfregar e lhe dará respostas perfeitas a todas as suas perguntas. Conforme a Inteligênia Artificial se torna cada vez mais proficiente em várias áreas e seu tom se torna quase indistinguível do de um humano, fica mais tentador acreditar nela sem conferir as informações, ignorando os erros que ainda se infiltram em seus resultados. Os anúncios que provavelmente chegarão em breve ao chatbot do Bing despertam preocupações pelo mesmo motivo: a credulidade do usuário.
Graças à sua capacidade de imitar a conversa humana, os chatbots alimentados por IA podem tornar os anúncios mais intimistas e, como resultado, ser incrivelmente eficazes em convencer as pessoas a comprar produtos. Se as pessoas confiarem demais nas recomendações de uma ferramenta orientada por IA, ela pode dar a seus criadores imenso poder sobre suas decisões e sobre a vida em geral. E isso não parece um futuro que atrairia muitas pessoas. Não para mim, pelo menos.