Mecanismo de busca do ChatGPT: um concorrente para a pesquisa do Google?
Quando um novo mecanismo de busca surge, ele sempre dá o que falar. Isso já aconteceu há anos com o DuckDuckGo, e no ano passado com o Copilot da Microsoft, uma versão reformulada e alimentada por IA do Bing, o mecanismo de busca da empresa. Mais recentemente, estamos observando a mesma tendência com a startup de busca por IA apoiada por Jeff Bezos, a Perplexity, cujo CEO já afirmou que representará o fim da pesquisa do Google, de uma vez por todas: “O Google será visto como algo antigo e obsoleto.” Esta é uma previsão um tanto ousada, vinda de um produto com cerca de 10 milhões de usuários mensais.
Mas a dominância no mercado do Google Search parece ser tão duradoura e aparentemente inquebrável que todos ficam empolgados com cada novo concorrente em potencial. E o próximo candidato a esta posição é um mecanismo de busca que ainda não está pronto, mas que supostamente está em desenvolvimento pela OpenAI, a criadora do ChatGPT.
O mesmo ChatGPT, mas usado como mecanismo de busca
O Information informou que a OpenAI está desenvolvendo seu próprio mecanismo de busca parcialmente alimentado pelo Bing. Não está claro se o mecanismo de busca será um aplicativo separado ou apenas mais um recurso do ChatGPT. Mas, segundo o relatório, ele tem potencial para ser tão rápido e direto quanto o ChatGPT.
A verdade é que o ChatGPT já pode ser usado como um mecanismo de busca. Desde a segunda metade do ano passado, os usuários premium já têm acesso ao recurso de busca "Navegar com o Bing", que precisa ser ativado manualmente. No entanto, este recurso não chamou a atenção da mídia nem fez com que os usuários do Google migrassem em massa para o novo mecanismo de busca. Quanto ao motivo... bem, nós mesmos experimentamos o recurso de navegação do ChatGPT e ele se mostrou incrivelmente lento, o que não nos surpreendeu: o ChatGPT não foi feito para busca. Mas e se o novo recurso do ChatGPT ou o novo aplicativo da OpenAI forem melhores? Ele destronará o Google de uma vez por todas ou se tornará apenas mais uma moda passageira?
O fim do Google ou nada para se preocupar?
O relatório de que a OpenAI está trabalhando em um produto de busca chamou a atenção da comunidade tecnológica. O Gizmodo foi tão longe a ponto de especular que o produto ou o recurso (que ainda sequer foi lançado) “será um desastre” para o Google. “Altman é um pesadelo do qual o Google não pode acordar,” escreveu Maxwell Zeff do Gizmodo, argumentando que “mais de 100 milhões de pessoas usam o ChatGPT toda semana, e isso já parece estar reduzindo o número de pessoas que dependem da busca do Google.”
Bem, mesmo que isso aconteça, é visível que o ChatGPT não tomou para si uma grande parte do mercado de busca do Google. A previsão para o mercado dos mecanismos de pesquisa é de crescimento, e a participação do Google continua em torno de 80%. E mesmo que a receita de busca do Google no último trimestre tenha decepcionado os investidores, trazendo para sua empresa mãe, a Alphabet, um pouco menos do que os US$ 48,1 bilhões esperados, os lucros ainda foram 13% maiores em relação ao ano anterior.
Isso tudo não é novidade
Se alguém tinha chances de desafiar a incontestável dominância do Google, este alguém era o Bing, que em alguns mercados como a Índia tem participação de 90%. Quando o motor de busca impulsionado por IA da Microsoft foi lançado no início de fevereiro de 2023, muitos de nós estávamos muito animados com suas perspectivas. "O Bing Impulsionado por IA da Microsoft pode superar a pesquisa do Google,” declarou o CNET, classificando o Bing como mais preciso em oito de cada 10 consultas de pesquisa. Aqui no AdGuard, nós também ficamos muito impressionados com os resultados. Além disso, o Bing conta com a posição favorável de segundo maior motor de busca, com participação de 10% do mercado global, confortavelmente à frente do terceiro lugar Yahoo, com 8%. Tudo isso contribuiu para a ideia de que a IA era um ingrediente especial que ajudaria o motor de busca da Microsoft a chegar mais perto dos números do Google.
Observar uma competição real no mercado de mecanismo de busca seria incrível, mas isso se revelou ser um sonho distante, pelo menos até o momento. Como bem apontado pela Bloomberg, o tão esperado "momento iPhone" previsto por alguns analistas não se concretizou e, apesar de todo o hype em torno do Bing AI, sua participação de mercado aumentou menos de um ponto percentual desde que a Microsoft anunciou sua transformação impulsionada por IA. Ou seja, tudo isso foi apenas um grão de areia na praia, e não uma mudança significativa.
Mas não se engane: não estamos contentes com a falta de sucesso imediato da Microsoft. É apenas uma questão de que, dia após dia, possíveis concorrentes para a pesquisa do Google não atingem o seu objetivo de se tornarem verdadeiros desafiantes de seu poder, e não apenas na mente de analistas exagerados, mas na realidade. Até agora, todas as tentativas de derrubar o Google não alcançaram seu objetivo, e realmente lamentamos que alguns deles estejam na obscuridade ou mesmo no cemitério da Internet. Um bom exemplo disso é o fim do Neeva, um motor de busca pago sem anúncios, cuja grandiosa e inspiradora visão de uma Web privada e sem anúncios não estava destinada a se concretizar. Quando o Neeva encerrou suas atividades no ano passado, seus cofundadores escreveram que o maior problema, “ao contrário do que se acredita,” não era convencer os usuários a pagar por uma experiência melhor, mas sim “convencê-los a experimentar um novo mecanismo de busca.”
Uma questão de onipresença
Este é exatamente o mesmo problema a ser enfrentado pelo novo produto de busca da OpenAI, e a questão que o Bing AI, muito mais estabelecido, já enfrentou antes: convencer os usuários cujos dispositivos vêm com a busca do Google pré-instalada a mudar para um novo mecanismo. A Alphabet está trabalhando para que isso não mude: no ano passado, seu CEO Sundar Pinchai revelou que o Google paga à Apple 36% da receita de busca do Safari para permanecer como o mecanismo de busca padrão no iPhone (algo entre US$18 e US$20 bilhões, de acordo com várias estimativas). No ano passado, também foi revelado que o Google concordou em pagar US$ 8 bilhões à Samsung ao longo de quatro anos para tornar seus aplicativos , inclusive os apps de busca, a opção padrão. Os potenciais concorrentes do Google têm esse tipo de dinheiro para gastar? E, se tiverem, estariam dispostos a fazer este tipo de acordo? Este parece ser um jogo perdido desde o início. Convencer os usuários do Chrome a quebrar seus hábitos de navegação seria igualmente difícil.
O novo produto de busca da OpenAI, se vier a se concretizar, conseguirá lidar com tudo isso? Veremos, mas as chances não estão a seu favor.